Perturbação de Hiperatividade/Défice de Atenção

Encontra-se perfeitamente estabelecido na investigação e prática clínica a existência de uma relação comórbida entre a Dislexia e a Perturbação de Hiperatividade/Défice de Atenção (PHDA). Diversos estudos empíricos demonstram que 15% a 40% das crianças com Dislexia apresentam PHDA (sobretudo a apresentação predominantemente de Desatenção). Deste modo, torna-se importante efectuar uma avaliação de diagnóstico diferencial aquando de uma avaliação clínica no âmbito da Dislexia e/ou PHDA.

A PHDA (poderá obter mais informação no Portal da Hiperatividade com Défice de Atenção) é uma perturbação do neurodesenvolvimento de base neurobiológica, onde estão implicados diversos fatores neurológicos, neurocognitivos e comportamentais (atenção, hiperatividade e/ou impulsividade).

As alterações do comportamento decorrentes da PHDA ocorrem em vários contextos (e.g., casa e escola) e provocam um défice clinicamente significativo na qualidade do funcionamento social, académico ou ocupacional. As crianças/adultos com PHDA podem revelar uma grande dificuldade em manter a atenção nas tarefas, distraem-se facilmente perante estímulos irrelevantes, mudam frequentemente de atividades sem terminar nenhuma delas, demonstram uma constante e excessiva irrequietude/hiperatividade, falam em excesso, têm dificuldades em esperar pela sua vez e em inibir o comportamento, entre diversos outros comportamentos.

DSM-5: Critérios de Diagnóstico da Perturbação de Hiperatividade/Défice de Atenção

CRITÉRIO A. Um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere com o funcionamento ou desenvolvimento, caracterizado por (1) e/ou (2).

(1) Desatenção: 6 (ou mais) dos seguintes sintomas persistiram pelo menos durante 6 meses num grau que é inconsistente com o nível de desenvolvimento e que tem impacto negativo direto nas atividades sociais e académicas/ocupacionais:

Nota: Os sintomas não são apenas uma manifestação de comportamentos de oposição, desafio, hostilidade ou falhas na compreensão de tarefas ou instruções. Para adolescentes mais velhos e adultos (17 anos e mais) são necessários pelo menos 5 sintomas.

  1. Frequentemente, falha em prestar atenção suficiente aos pormenores ou comete erros por descuido nas tarefas escolares, no trabalho ou noutras atividades (por exemplo, negligência ou perde pormenores, o trabalho é impreciso).
  2. Frequentemente, tem dificuldades em manter a atenção no desempenho de tarefas ou atividades (por exemplo, tem dificuldades em manter-se concentrado durante as aulas, conversas ou leitura prolongada).
  3. Frequentemente, parece não ouvir quando se lhe fala diretamente (por exemplo, parece estar com o pensamento noutro assunto, mesmo na ausência de uma distração óbvia).
  4. Frequentemente, não segue as instruções e não termina os trabalhos escolares, encargos ou deveres no local de trabalho (por exemplo, inicia as tarefas, mas depressa perde a concentração e é facilmente desviado).
  5. Frequentemente, tem dificuldades em organizar tarefas e atividades (por exemplo, dificuldade em gerir tarefas sequenciais; dificuldade em manter materiais e pertences em ordem; trabalho confuso e desorganizado; tem uma pobre gestão de tempo; falha em cumprir prazos).
  6. Frequentemente, evita, não gosta ou está relutante em envolver-se em tarefas que requeiram um esforço mental mantido (por exemplo, trabalhos escolares ou de casa; para adolescentes mais velhos e adultos, preparar relatórios, completar formulários, rever textos longos).
  7. Frequentemente, perde objetos necessários para tarefas ou atividades (por exemplo, materiais escolares, lápis, livros, ferramentas, carteiras, chaves, documentos, óculos, telemóveis).
  8. Frequentemente, é facilmente distraído por estímulos alheios (para adolescentes mais velhos e adultos podem-se incluir pensamentos não relacionados).
  9. Esquece-se com frequência das atividades quotidianas (por exemplo, efetuar tarefas, fazer recados; para adolescentes mais velhos e adultos, devolver chamadas, pagar contas, manter compromissos).


(2) Hiperatividade e Impulsividade
: 6 (ou mais) dos seguintes sintomas persistiram pelo menos durante 6 meses num grau que é inconsistente com o nível de desenvolvimento e que tem impacto negativo direto nas atividades sociais e académicas/ocupacionais:

Nota: Os sintomas não são apenas uma manifestação de comportamentos de oposição, desafio, hostilidade ou falhas na compreensão de tarefas ou instruções. Para adolescentes mais velhos e adultos (17 anos e mais) são necessários pelo menos 5 sintomas.

  1. Frequentemente, agita ou bate com as mãos e os pés ou remexe-se quando está sentado.
  2. Frequentemente, levanta-se em situações em que se espera que esteja sentado (por exemplo, levanta-se do seu lugar na sala de aula, no escritório ou outro local de trabalho ou noutras situações que requerem permanecer sentado).
  3. Frequentemente, corre ou salta em situações em que é inadequado fazê-lo (nota: em adolescentes ou adultos pode limitar-se a sentir-se irrequieto).
  4. Frequentemente, é incapaz de jogar ou envolver-se com tranquilidade em atividades de lazer.
  5. Está frequentemente «em movimento», agindo como se estivesse «ligado a um motor» (por exemplo, sente-se desconfortável ou é incapaz de estar quieto por períodos extensos, como em restaurantes, encontros; pode ser experienciado por outros como estando impaciente ou com dificuldade em acompanhar).
  6. Frequentemente, fala em excesso.
  7. Frequentemente, precipita as respostas antes que as perguntas tenham acabado (por exemplo, completa as frases das pessoas; não consegue esperar pela sua vez de entra na conversa).
  8. Frequentemente, tem dificuldades em esperar pela sua vez (por exemplo, enquanto espera numa fila).
  9. Frequentemente, interrompe ou interfere nas atividades dos outros (por exemplo, intromete-se nas conversas, jogos ou atividades; pode começar a usar as coisas das outras pessoas sem pedir ou receber permissão; para adolescentes e adultos, pode intrometer-se ou assumir o controlo do que os outros estão a fazer).


CRITÉRIO B.
Vários dos sintomas de desatenção ou hiperatividade-impulsividade surgiram antes dos 12 anos de idade.

CRITÉRIO C. Vários dos sintomas de desatenção ou hiperatividade-impulsividade estão presentes em 2 ou mais contextos (por exemplo, em casa, escola ou trabalho; com amigos ou familiares; noutras atividades).

CRITÉRIO D. Existem provas evidentes de que os sintomas interferem com, ou reduzem, a qualidade do funcionamento social, académico ou ocupacional.

CRITÉRIO E. Os sintomas não ocorrem exclusivamente durante o curso de esquizofrenia ou outra perturbação psicótica e não são mais bem explicados por outra perturbação mental (por exemplo, perturbação do humor, perturbação da ansiedade, perturbação dissociativa, perturbação da personalidade ou abstinência de substâncias).

Tipos de Apresentação:

Existem 3 tipos de apresentação da PHDA, consoante a frequência e intensidade dos comportamentos de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que a criança/adulto exibe.

1 — Apresentação Combinada ocorre quando estão preenchidos o CRITÉRIO A1 (Desatenção) e o CRITÉRIO A2 (Hiperatividade-Impulsividade).

2 — Apresentação Predominantemente de Desatenção ocorre quando está preenchido o CRITÉRIO A1 (Desatenção), mas não o CRITÉRIO A2 (Hiperatividade-Impulsividade).

3 — Apresentação Predominantemente de Hiperatividade-Impulsividade ocorre quando está preenchido o CRITÉRIO A2 (Hiperatividade-Impulsividade), mas não o CRITÉRIO A1 (Desatenção).

PHDA no Adulto

A prevalência da PHDA no adulto varia entre os 2,5% e os 5%. No mais recente relatório epidemiológico da Organização Mundial de Saúde é estimada uma prevalência média de 2,8% a nível mundial. Neste relatório é estimada uma prevalência de 3% de PHDA no adulto para Portugal, com 56,3% dos casos diagnosticados na idade pediátrica a persistirem na idade adulta (Fayyad et al., 2017).

Ao contrário do que ocorre na idade pediátrica, onde a PHDA é claramente mais prevalente nos rapazes, na idade adulta a prevalência da PHDA entre homens e mulheres é bastante próxima. Nas mulheres observa-se sobretudo a PHDA com Apresentação Predominantemente de Desatenção.

O estudo e o interesse crescente pela PHDA no adulto está sobretudo associado ao seu impacto no funcionamento social, ocupacional, no bem-estar emocional e na associação com outras perturbações psicopatológicas. De um modo geral, a PHDA no adulto conduz a uma: (1) baixa produtividade no trabalho, (2) alterações emocionais e sociais, (3) abuso e/ou dependência de substâncias, (4) outros comportamentos disruptivos, (5) outras condições psicopatológicas; entre outros. Mais informações sobre a PHDA no Adulto consulte: https://hiperatividade.com.pt/phda-no-adulto/.

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