Sinais de Alerta

Dada a natureza neurodesenvolvimental desta Perturbação da Aprendizagem Específica, as crianças com com Dislexia evidenciam um conjunto significativo de sinais de alerta e sintomas durante a infância e o início da idade escolar. De seguida são apresentados alguns Sinais de Alerta da Dislexia na infância e em idade escolar para que pais, professores e educadores possam mais facilmente identificar estas possíveis alterações nos seus educandos.

Na eventualidade de identificar vários destes sinais de alerta e a criança manifestar dificuldades significativas nos processos de leitura e escrita é recomendado o encaminhamento da criança para uma avaliação especializada por profissionais [nomeadamente (neuro)psicólogos] com larga experiência neste âmbito.

Sinais de Alerta durante a Infância
  • Atraso no desenvolvimento da linguagem. Começou a dizer as primeiras palavras mais tarde do que o habitual e a construir frases mais tardiamente.
  • Apresentou alguns problemas na linguagem durante o seu desenvolvimento, nomeadamente dificuldades em pronunciar determinados sons/fonemas (e.g., /r/, /l/, /ʃ/), linguagem “abebezada” para além do tempo normal, etc.
  • Na linguagem oral revelou dificuldades em construir frases lógicas e com sentido, as suas frases eram curtas e com palavras mal pronunciadas (com omissões ou substituições de fonemas).
  • Durante a pré-escola revelou dificuldades em memorizar e acompanhar as canções infantis, as lenga-lengas e demonstrou bastantes dificuldades nas atividades de rimas e de segmentação silábica das palavras.
  • Dificuldade em memorizar e recordar algumas letras, nomeadamente algumas do seu nome.
  • Apresentou dificuldades em tarefas de consciência fonológica (rimas, lenga-lengas, segmentação sílabica, etc.).
  • Presença de pessoas da família nuclear ou alargada com Dislexia ou com dificuldades de aprendizagem (hereditariedade da Dislexia).
  • Entre vários outros sinais (…).
Sinais de Alerta na Idade Escolar
  • Lentidão na aprendizagem da leitura e escrita. Desfasamento face à turma na aquisição das letras, sílabas e ditongos, bem como no reconhecimento de palavras.
  • Dificuldades de leitura e escrita: lentidão na aprendizagem e na memorização das letras, e na automatização dos processos da leitura e escrita.
  • Dificuldade em compreender que as palavras se podem segmentar em sílabas e fonemas (segmentação silábica e fonémica).
  • Dificuldades na consciência fonológica (segmentação fonémica e manipulação fonológica, etc.).
  • A velocidade da leitura é significativamente abaixo do esperado para a idade, muitas vezes silábica e por soletração.
  • Bastantes dificuldades na leitura, com a presença constante de erros (substituição, omissão, inserção e inversão de letras), fragilidades nos processos de descodificação e de reconhecimento de palavras.
  • Dificuldades na compreensão de textos devido à sua reduzida precisão e fluência leitora. Normal compreensão quando as histórias lhe são lidas.
  • A leitura e a escrita surgem com muitos erros, nomeadamente erros fonológicas (e.g., p-t, f-v, ch-j, nh-lh, ai-ia, …) e/ou erros lexicais (e.g., o-u, e-i, s-ss-c-ç-x, x-ch, z-s-x, c-qu, …).
  • Na escrita surgem fragilidades na organização/estruturação das ideias no texto, na construção frásica e no planeamento e revisão do texto.
  • Demora demasiado tempo na realização dos trabalhos de casa (uma hora de trabalho rende 10 minutos).
  • Utiliza estratégias e truques para não ler. Não revela qualquer prazer pela leitura.
  • Distrai-se com bastante facilidade, parecendo que está a “sonhar acordado”. Curtos períodos de atenção quando está a ler ou a escrever, cansando-se muito rapidamente. Esta desatenção poderá ser resultante de questões emocionais/motivacionais relacionadas com a leitura/escrita, mas também podem ser indicadores clínicos de Perturbação de Hiperatividade/Défice de Atenção (PHDA).
  • Os resultados escolares não são condizentes com a sua capacidade intelectual. Melhores resultados nas avaliações orais do que nas escritas.
  • Dificuldades em memorizar e processar informações verbais.
  • Muitas dificuldades na aprendizagem de uma língua estrangeira (Inglês).
  • Não gosta de ir à escola ou de realizar atividades com ela relacionada.
  • Apresenta “picos de aprendizagem”, nuns momentos parece assimilar e compreender os conteúdos curriculares e noutros momentos parece ter esquecido o que tinha aprendido anteriormente.
  • Entre vários outros sinais (…).
Rastreio e Intervenção Precoce

Apesar da existência de vários sinais precoces de Dislexia, de alterações neurofuncionais (observadas através de técnicas neuroimagiológicas) e de dificuldades significativas no processamento fonológico (consciência fonológica, nomeação rápida e memória de trabalho verbal) serem já claramente evidentes durante o período pré-escolar, o diagnóstico da Dislexia só pode ser efetuado após o início da aprendizagem formal da leitura e escrita.

Este diagnóstico na maioria da vezes ocorre (ou deveria de ocorrer) durante o 1º Ciclo do Ensino Básico. De acordo com as recomendações de vários autores e instituições, é aconselhável que o diagnóstico formal da Dislexia não seja estabelecido muito antes de meados do 2º ano de escolaridade, pois dificuldades na fase inicial da aprendizagem da leitura/escrita podem ser banais pela sua frequência, pela necessidade de se ter que observar dificuldades persistentes (e não transitórias) na aprendizagem da leitura/escrita e para compreender se as dificuldades nos processos leitores/ortográficos não estão apenas associadas a um ligeiro atraso no desenvolvimento destas competências mas sim a um défice no seu desenvolvimento (que é o caso da Dislexia). 

Inversamente, um atraso na avaliação, identificação e diagnóstico da Dislexia poderá levar ao acumular de dificuldades nas várias áreas curriculares, a uma menor eficácia da intervenção e ao surgimento de significativas alterações emocionais. De facto, é essencial que o rastreio (“screening”) dos sinais precoces de dificuldades na leitura e/ou de Dislexia e uma intervenção intensiva ocorra o mais cedo possível, pois está cientificamente comprovado que uma intervenção fonológica é mais eficaz no período pré-escolar e nos anos iniciais da escolaridade.

Ou seja, aos primeiros sinais de dificuldades na aquisição da leitura e/ou de Dislexia deveria de ser realizada uma avaliação especializada e uma adequada intervenção (idealmente no período pré-escolar ou nos anos iniciais da escolaridade), muito embora o diagnóstico definitivo da Dislexia seja recomendado que ocorra após, pelo menos, um ano (e meio) de frequência escolar. Esta intervenção precoce nas funções do processamento fonológico permite, não só, minimizar muitas das dificuldades na fase inicial da aquisição da leitura, bem como analisar a resposta da criança à intervenção (“response to intervention”) auxiliando, assim, a melhor clarificar o diagnóstico.