Défices na Expressão Escrita: Disortografia e Disgrafia

Perturbação da Aprendizagem Específica com Défice na Expressão Escrita

A Perturbação da Aprendizagem Específica com Défice na Expressão Escrita (segundo o DSM-5) é uma perturbação que afecta as aptidões da expressão escrita: (1) na precisão ortográfica; (2) na organização/estruturação das frases/textos; e (3) nas regras gramaticais e de pontuação.

O DSM-5 estabelece os seguintes critérios para a Perturbação da Aprendizagem Específica com Défice na Expressão Escrita (ver restantes Critérios de Diagnóstico do DSM-5 para Perturbação da Aprendizagem Específica):

315.2 (F81.81) Com Défice na Expressão Escrita:
— Precisão ortográfica
— Precisão gramatical e da pontuação
— Clareza ou organização da expressão escrita

Assim, as crianças com Perturbação da Aprendizagem Específica com Défice na Expressão Escrita revelam:

  1. Dificuldade em executar os processos cognitivos subjacentes à composição de textos:
    • No planeamento, textualização e revisão de textos.
    • Em organizar e expressar os seus pensamentos/conhecimentos segundo as regras ortográficas. Falta de clareza na produção escrita das ideias.
    • Organização pobre dos parágrafos.
    • Erros gramaticais ou na pontuação das frases.
  2. Dificuldades na (des)codificação fonológica e no processamento ortográfico, que se traduz num conjunto alargado e específico de erros ortográficos (reduzida precisão ortográfica).
As dificuldades na escrita podem dividir-se nos seguintes domínios:
  • Dificuldade nos processos de ordem superior (higher order processes) da escrita que estão relacionados com o planeamento, textualização e revisão de textos.
  • Dificuldade na precisão ortográfica, também designada de processos centrais da escrita (spelling). A baixa precisão ortográfica está relacionada com as fragilidades na descodificação fonológica e no acesso à representação ortográfica das palavras que se encontra na memória ortográfica de longo-prazo (léxico ortográfico). Estas dificuldades nos processos de ordem superior e nos processos centrais da escrita (i.e., no planeamento, textualização e revisão de textos; na precisão ortográfica) encontram-se presentes na Perturbação da Aprendizagem Específica com Défice na Expressão Escrita (também designada por alguns autores como DISORTOGRAFIA).
  • Dificuldade na escrita à mão (processos periféricos da escrita) que se caracteriza por uma ilegibilidade da caligrafia (alterações quanto à forma, tamanho, espaçamento, alinhamento e traçado das letras) e uma velocidade de escrita lenta. Estas dificuldades encontram-se normalmente associadas à DISGRAFIA, uma vez que envolve um problema funcional no ato motor da escrita (má caligrafia, dificuldades na motricidade fina, na coordenação visuo-motora, etc.) (ver a Nota no final desta página).

A prevalência da Disortografia na população é menos frequente do que as outras duas componentes da Perturbação da Aprendizagem Específica (Dislexia e Discalculia). As crianças com Disortografia (e sem Dislexia) apesar de apresentarem um funcionamento intelectual e uma leitura normais, evidenciam um conjunto significativo de défices na capacidade para compor textos escritos, erros gramaticais ou de pontuação na elaboração das frases, organização pobre dos parágrafos e vários erros ortográficos. É possível haver uma Disortografia sem que esteja presente uma Dislexia.


Disgrafia

A DISGRAFIA (ou Disgrafia Periférica) é uma alteração funcional na componente motora do ato de escrever que afecta a qualidade da escrita à mão. As crianças com Disgrafia apresentam uma má qualidade da caligrafia (alterações quanto à forma, tamanho, espaçamento, alinhamento e traçado das letras) e/ou uma velocidade de escrita lenta.

Assim, a Disgrafia pode ser definida como uma dificuldade específica no domínio da caligrafia que afeta a legibilidade (quanto à forma, tamanho, espaçamento, alinhamento, traçado e ligação das letras) e a rapidez de escrita, apesar das condições educativas proporcionadas e da ausência de evidente neuropatologia ou perturbação sensório-motora (Moura, 2021, pp. 503-504).

Vejamos algumas das características sintomatológicas:

  • Postura gráfica incorrecta.
  • Forma incorrecta de segurar o lápis e dificuldades na sua preensão e pressão.
  • Letras desligadas ou sobrepostas e ilegíveis.
  • Dificuldades quanto à forma das letras: letras irreconhecíveis, tamanho muito pequeno ou muito grande, escrita alongada ou comprida.
  • Inclinação ao nível da linha de escrita (direcção da escrita oscilando para cima ou para baixo) e/ou inclinação ao nível da própria letra e palavra, dificuldades na orientação visuoespacial.
  • Traçado exageradamente grosso ou demasiadamente suave.
  • Espaçamento irregular entre as letras ou palavras, estas podem aparecer desligadas ou sobrepostas.
  • Entre vários outros…

Nota: Alguns autores utilizam o termo Disgrafia para se referir cumulativamente a dificuldades nos processos cognitivos subjacentes à composição de textos, na precisão ortográfica (i.e., erros ortográficos) e na componente motora do ato de escrever (i.e., ilegibilidade da caligrafia e/ou velocidade de escrita lenta). Ou seja, reúnem no termo Disgrafia todos os défices relativos à expressão escrita.

Outros autores diferenciam as duas condições, utilizando o termo Disgrafia (ou Disgrafia Periférica) para se referirem a défices exclusivos na ilegibilidade da caligrafia e o termo Disortografia (ou Disgrafia Central) para se referirem a défices na precisão ortográfica e nos processos cognitivos subjacentes à composição de textos.