Habilitação Escolar da Mãe e Desigualdades Socioeconómicas no Desempenho Escolar dos Filhos

 

A literatura científica tem demonstrado que os alunos provenientes de meios socioeconómicos favorecidos tendem a obter, em média, melhores resultados escolares do que os seus colegas oriundos de meios mais desfavorecidos. O Ministério da Educação (ME) produziu recentemente (Fevereiro 2016) um estudo sobre a relação entre o desempenho escolar dos alunos e o meio socioeconómico da sua família.

 

Neste estudo do ME – DESIGUALDADES SOCIOECONÓMICAS E RESULTADOS ESCOLARES – foram analisados os resultados escolares dos alunos do 3º Ciclo de Portugal Continental e duas variáveis socioeconómicas: (1) nível de habilitação escolar da mãe do aluno e (2) o escalão do apoio da Ação Social Escolar recebido pelo aluno.

 

Este estudo concluiu pela existência de uma muito forte relação entre o desempenho escolar dos alunos e o meio socioeconómico dos seus agregados familiares. Por exemplo, entre os alunos cujas mães têm habilitação académica ao nível do Mestrado ou Doutoramento, a percentagem de “percursos de sucesso” é de 75%, enquanto entre os alunos cujas mães não têm habilitação escolar, a percentagem de “percursos de sucesso” é de apenas 14% (ver gráfico seguinte). O “percurso de sucesso” foi estabelecido sempre que  um aluno obtém positiva nas duas provas finais de 9.º ano (Português e Matemática) após um percurso sem retenções nos 7.º e 8.º anos.

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Os resultados relativos ao escalão do apoio da Ação Social Escolar recebido pelo aluno seguem a mesma trajetória dos dados anteriores. Assim, dos alunos que pertencem ao Escalão A apenas 20% têm um “percurso de sucesso” no 3º ciclo, enquanto dos alunos sem apoio da Ação Social Escolar a percentagem de “percurso de sucesso” é de 49% (ver gráfico seguinte).

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Obviamente que a habilitação académica da figura materna e o escalão da Ação Social Escolar não são as únicas variáveis explicativas destes resultados. Tal como o ME identifica, a relação entre o desempenho escolar dos alunos e o meio socioeconómico da sua família não é uma constante em todos os Distritos:

“Contudo, as estatísticas apresentadas no estudo sugerem também que o nível socioeconómico não equivale a destino, ou seja, não determina de forma inapelável o desempenho escolar dos alunos. Prova disso é o facto dos alunos de certas regiões do país com indicadores socioeconómicos desfavoráveis, como Braga ou Viseu, terem, não obstante, indicadores de desempenho no 3.º ciclo francamente superiores à média nacional. Por exemplo, observa-se que, em média, os alunos do distrito de Braga cujas mães têm habilitação baixa, equivalente ao 6.º ano, têm um desempenho escolar no 3.º ciclo superior aos alunos do distrito de Beja cujas mães têm como habilitação o 12.º ano completo. Existem portanto outros fatores importantes em jogo, além do nível socioeconómico, fatores que importa investigar localmente e de forma mais aprofundada.”

 

Como rapidamente se percebe pela leitura do gráfico “Percursos de sucesso vs Habilitação das mães, por distrito”, no Distrito de Braga apenas 27% das mães têm uma escolaridade igual ou superior ao 12º ano de escolaridade, mas a percentagem de alunos com “percurso de sucesso” é de 44%. Em contraste, no Distrito de Setúbal, 53% das mães têm uma escolaridade igual ou superior ao 12º ano de escolaridade, mas apenas 32% dos alunos têm “percurso de sucesso”.

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Este estudo, vem complementar um outro – Avaliação das Aprendizagens dos Alunos do Ensino Básico – que fizemos referência num artigo de blog publicado a 25 Fevereiro 2016.